Por todo o país, um renascimento subtil mas poderoso do património rural está a devolver a vida a aldeias antigas. Povoações, outrora esvaziadas pelo êxodo para as cidades costeiras, estão a ser transformadas em destinos de turismo imersivo que transmitem uma sensação genuína de comunidade. Esta tendência de recuperação do património é um dos motores de um setor turístico em franca expansão, como confirmam os dados mais recentes.

Revitalização de Aldeias Autênticas

No concelho de Vila do Bispo, no Algarve, a Aldeia da Pedralva é um exemplo paradigmático desta transformação. Trinta casas em ruínas foram cuidadosamente recuperadas com pedra local, telhados de colmo e mobiliário de segunda mão, oferecendo hoje uma atmosfera rural e acolhedora. Os hóspedes podem pernoitar ou passar um fim de semana nestas casas reabilitadas com esmero. A iniciativa segue o conceito italiano de albergo diffuso, transformando a hospitalidade numa ferramenta para proteger o passado e, ao mesmo tempo, atrair visitantes. Projetos como este são aclamados como turismo sustentável, pois valorizam o existente, evitam novas construções e promovem a cultura local sem a descaracterizar.

Uma Onda de Projetos de Turismo de Aldeia

A vaga de turismo de aldeia focado no património estende-se muito para além de Pedralva. Na região Centro, foram lançados projetos em rede como as Casas do Côro e as Casas do Juízo. No Parque Nacional da Peneda-Gerês, a Aldeia de Pontes está a ser recuperada. Perto de Lisboa, a Aldeia da Mata Pequena encontra-se em processo de regeneração, enquanto no Alentejo, a Aldeia de São Gregório segue um caminho semelhante. Alguns destes esforços são apoiados por entidades de turismo regionais, como as redes Aldeias Históricas de Portugal e Aldeias do Xisto, que promovem conjuntos de aldeias com valor histórico ou construídas com esta rocha.

Histórias de Sucesso: De Cerdeira aos Açores

Na Serra da Lousã, um renascimento inesperado deu origem à Cerdeira – Home for Creativity. Tudo começou no final dos anos 80, quando uma escultora alemã, enquanto estudava em Coimbra, descobriu uma aldeia de xisto do século XVII em ruínas. Uma casa foi restaurada para se tornar o seu ateliê, e amigos seguiram-lhe o exemplo, formando gradualmente uma comunidade. Este crescimento orgânico culminou num conjunto de dez casas recuperadas que hoje albergam estúdios de arte, especialmente de cerâmica, recebendo professores e alunos de todo o mundo.

Entretanto, na remota ilha das Flores, nos Açores, a Aldeia da Cuada vive um processo de revitalização desde cerca de 1990. Um pequeno aglomerado de casas de pedra abandonadas foi adquirido e restaurado com cuidado por uma família, em parceria com os herdeiros dos antigos residentes, respeitando a arquitetura tradicional. Hoje, dezasseis casas estão disponíveis para hóspedes, complementadas por um restaurante e uma piscina, tudo sem alterar o espírito do lugar.

Turismo em Alta: Os Números que Confirmam a Tendência

Estes projetos de revitalização inserem-se num contexto de forte crescimento do turismo em Portugal. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o setor do alojamento turístico registou 9,2 milhões de hóspedes e 23 milhões de dormidas no segundo trimestre de 2025, o que corresponde a subidas de 4,4% e 4,2%, respetivamente.

As receitas totais atingiram os 2 mil milhões de euros e as receitas de aposento totalizaram 1,6 mil milhões de euros, refletindo aumentos de 9,4% e 9,8%. De notar que o segmento de turismo em espaço rural e de habitação foi o que mais cresceu, com um aumento de 13,1% nas dormidas, superando o crescimento dos hotéis (4%) e do alojamento local (3%).

Mercados Externos Impulsionam o Setor, mas Residentes Ganham Peso

Os mercados externos continuam a dominar o setor, sendo responsáveis por 72,3% do total de dormidas. Contudo, o INE aponta para uma «dinâmica decrescente» nesta dependência, uma vez que o peso dos mercados estrangeiros recuou pelo terceiro trimestre consecutivo. Em contrapartida, as dormidas de residentes registaram um crescimento robusto de 7,6%.

Em termos de distribuição geográfica, o Algarve concentrou a maior fatia das dormidas (27,1%), seguido pela Área Metropolitana de Lisboa (23,4%) e pelo Norte (17,8%). As dormidas de não residentes ocorreram maioritariamente no Algarve (30,5%), enquanto as de residentes se concentraram mais no Norte (21,7%), o que sugere que o turismo rural e de interior beneficia significativamente do mercado nacional.